Domingo de sol e calor na capital gaúcha, eu e minha filha fomos ao clube.
Ela uma criança que se relaciona super bem com outras crianças, falante, risonha, disposta e disponível a novos laços de amizade. Uma verdadeira cerimonialista na arte de se comunicar.
No entanto, naquele fatídico domingo, não encontrou ninguém para brincar. Não, a pracinha não estava vazia, muito pelo contrário, as três pracinhas do clube estavam repletas de crianças.
Mas…
Ela não conseguiu brincar com ninguém por muito tempo. Desencontros, desinteresses, uns chegam, outros vão embora, comer, beber, descansar, mil coisas.
E, cada vez que se via sozinha, chorava, gritava, se irritava, mas não desistia. Respirava e partia para uma nova busca por uma nova companhia para dividir a tarde de brincadeiras.
A tarde foi passando, se esvaindo e com ela minha paciência, que pipoquei por todo o clube atrás dela para que continuasse em meu campo de visão. Assim, foi a nossa tarde, ela atrás de alguém para brincar e, eu atrás dela monitorando.
Eu já falei que estava um dia quente?
Praticamente verão, até fomos à área de piscinas, mas não estava funcionando. Inverno, né?! Voltamos.
O choro triste dela por não encontrar alguém disposto a brincar, só aumentava, assim como minha vontade de ir embora.
Com o cair da tarde, a possibilidade de encontrar alguém para brincar era cada vez menor. No entanto, ela é insistente, digo, persistente. kkkkkkkkk
E a cena se repete mais uma vez. Ela frustrada, vem até mim inconsolável.
Com cara de paisagem, sem falar nada (decido ir embora), pego ela pela mão e vou me encaminhando em direção à saída. Para mim deu, fui vencida pelo cansaço, pensava enquanto caminhava.
Ela se dá conta e começa a chorar mais intensamente e, entre lágrimas, suplica “deixa eu tentar mãe, só mais uma vez, eu só quero brincar. “ Segui andando, ela repetindo.
Mas, no meio do caminho tinha um banco. Tinha um banco no meio do caminho.
Faço-a sentar, ofereço água, ela se acalma um pouco. Pergunto se quer conversar. “Você não entende”, dizia ela.
Tenta!
– “Eu só quero alguém para brincar, mas você não entende, porque você tem o papai”!
Gente, eu JURO um monte de coisas RACIONAIS passaram por minha cabeça. Desde “nascemos sozinhos e morremos sozinhos”, o fato de que escolher alguém para dividir a vida, não significa que essa pessoa tenha responsabilidade em preencher todas as minhas necessidades e vulnerabilidades. O fato de precisarmos nos reconhecermos primeiramente sozinhos e íntegros para depois querermos nos relacionarmos com outras pessoas e mais um caminhão de teorias que não se aplicavam naquele contexto. Socorro!
Não, não se preocupem. Não falei nada disso para minha filha de 5 anos. Apenas perguntei se queria um abraço, lhe apertei forte, beijei as bochechas, limpei as lágrimas, disse que entendia o que estava sentido e fiz a coisa mais adulta que me ocorreu: “vamos tomar um picolé?”
Quando não se sabe o que fazer, acolher já é fazer muito. Foi o que escolhi, acolher! E sobre as teorias? Ah, isso um dia ela descobre, não é mesmo?!
*Artigo Originalmente publicado na Revista Statto em 25 de agosto. Disponível em: https://revistastatto.com.br/babys/filhos/eu-gosto-disso-isso-e-muito-adulto/
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